Folhetim, o nono livro de Cesar Augusto de Carvalho, reúne contos de absurdo e humor, com uma narrativa cinematográfica que explora o acaso e a fronteira entre sonho e realidade
A literatura de Cesar Augusto de Carvalho segue um caminho peculiar, longe dos modismos de ocasião, marcada por narrativas em que o acaso determina o movimento do mundo e o sonho invade a realidade, ou a realidade se transforma em sonho. Ambos convivem e se reforçam.
É o que se vê nos onze contos de Folhetim. A partir de um fato qualquer, abre-se uma fresta para o absurdo, o humor e o nonsense. A lógica do real é sobrepujada por conexões inusitadas e elos inesperados. Ali nada é sólido, tudo está por um triz. Cada história contém bifurcações que levam a outras histórias. Essa técnica narrativa mise en abyme acaba mergulhando o leitor num torvelinho alucinante. Os personagens são tipos com órbitas próprias, perdidos em sua solidão, anti-heróis apartados da máquina da cobiça e do sucesso a qualquer preço, mais voltados para a recompensa dos pequenos prazeres mundanos, ou da simples sobrevivência.
Os contos, com seus cortes e sobreposições, são bastante visuais, explorando recursos do cinema. Não à toa, Cesar Carvalho incorpora em sua experiência a de roteirista antes de se aventurar nos livros. Assim, o conto “Flipando em Paraty”, que abre o volume, mostra um escritor na bancarrota que consegue uma oportunidade de fazer a cobertura da badalada festa literária. No conto de título cabalístico “13”, um jornalista se lança numa reportagem que investiga um caso de racismo. E no conto-título “Folhetim”, um escritor se envolve em um episódio de crime cuja trama é pura alusão, revestida de sátira, ao clássico godardiano Acossado, que é o conto mais claramente cinematográfico do conjunto.
O livro inclui ainda uma incursão pela autoficção, no conto que encerra o volume. Nela, o narrador afirma: “Todas as histórias já foram contadas, muda só o jeito de as contar.” Cesar Augusto de Carvalho, como seus contos demonstram, criou seu próprio caminho.
Sobre o autor
Nascido em Pompeia, SP, Cesar Augusto de Carvalho é professor de sociologia aposentado pela Universidade Estadual de Londrina – UEL – Paraná. Autor de prosa ficcional e ensaios, publicou Viagem ao Mundo Alternativo: a contracultura nos anos 80 (contos, Unesp, 2008); Toca Raul (contos, crônicas e radionovela, Independente, 2014); Histórias de Quem (contos, Desconcertos, 2020), Raul & Eu (novela, Cintra, 2022); Lado B (contos, Laranja Original, 2022) e Folhetim (Laranja Original, 2024).
Como poeta publicou Proesia (Independente, 2013); Lavras ao Vento, Pá (Benfazeja, 2017) e Curto-circuito (Patuá, 2019). Vários de seus contos foram publicados em jornais e revistas; participou de antologias poéticas, além de organizar muitas outras, a exemplo de Antologia Gente de Palavra Paulistana (Patuá, 2023), nome homônimo ao Sarau do qual é curador, em São Paulo. Juntamente com o poeta Hamilton Faria criou o Canal do Poetariado, programa mensal de entrevistas com poetas veiculado pelo Youtube e Facebook.
Segundo o autor, que iniciou a carreira como cronista e pesquisou a contracultura, a atividade com os roteiros de cinema tem bastante influência sobre sua escrita. E sobre o atual mercado literário, Cesar Augusto defende: “embora se constate uma queda estatística na venda de livros, felizmente ainda é grande a demanda de leitores ávidos pela boa literatura”.

Serviço
Lançamento / livro: Folhetim
Autor: Cesar Augusto de Carvalho
👉 Aproveite com nosso link a oferta do livro na AMAZON