Mestre Romão não conseguia vencer uma dificuldade inerente a si mesmo. Ele ficou no desejo se tornar “um grande compositor”. O “impulso interior” ficou sem um modo apropriado de “comunicação com os homens”. Tinha dentro de si “um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel”. Que não realizou.
Nesse conto, Machado também falava de si. É, portanto, um “conto teoria”. É um conto que expõe, em ficção, a teoria do recalque, criada depois por Freud, para quem a repressão externa se internaliza no processo de educação necessário aos filhos, formando o recalque do neurótico comum.
Machado conseguia a proeza que mestre Romão não conseguia. Ele explica em Aurora sem dia (1870): “Isto não se aprende; traz-se do berço. Poesia não se aprende, traz-se do berço. O modo porém constituía a originalidade do poeta, originalidade que ele não teve a princípio, mas que se desenvolveu muito com o tempo. Não imagina quantos invejosos andam a denegrir o meu nome. O meu talento tem sido o alvo de mil ataques; mas eu já estava disposto a isto. Prometeu, atado ao Cáucaso, é o emblema do gênio”.
O gênio vem de berço e se desenvolve com o tempo. Machado o fez: desenvolveu sua genialidade. O que exige muita dedicação e persistência, um trabalho aprimorado, no treino de passar pelo verso, criando o enlevo, para rodear o proibido, preparando a subjetividade, de modo a dizê-lo após as preliminares para que ela seja receptiva a aceitar o que jamais aceitaria se fosse pelo dizer direto brusco, que pode perturbar, embora na vida prática seja comum.

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Machado conseguia a proeza que mestre Romão não conseguia. Ele explica em Aurora sem dia (1870): “Isto não se aprende; traz-se do berço. Poesia não se aprende, traz-se do berço. O modo porém constituía a originalidade do poeta, originalidade que ele não teve a princípio, mas que se desenvolveu muito com o tempo. Não imagina quantos invejosos andam a denegrir o meu nome. O meu talento tem sido o alvo de mil ataques; mas eu já estava disposto a isto. Prometeu, atado ao Cáucaso, é o emblema do gênio”.
O gênio vem de berço e se desenvolve com o tempo. Machado o fez: desenvolveu sua genialidade. O que exige muita dedicação e persistência, um trabalho aprimorado, no treino de passar pelo verso, criam o o enlevo, para rodear o proibido, preparando a subjetividade, de modo a dizê-lo após as preliminares para que ela seja receptiva a aceitar o que jamais aceitaria se fosse pelo dizer direto brusco, que pode perturbar, embora na vida prática seja comum.
*Adelmo Marcos Rossi (foto) é pesquisador e fundador do Grupo de Pesquisa do Narcisismo, com 15 anos dedicados aos estudos de psicanálise. Publicou “O Imortal Machado de Assis – Autor de Si Mesmo”, em que revela como o escritor brasileiro criou uma psicologia conceitual antes de Freud