Livros digitais vs. físicos ganha força na Geração Z, que busca equilíbrio: mantém e-books pela praticidade, mas retorna ao impresso por foco sensorial
Devido ao avanço tecnológico, a geração Z está imersa nas telas desde cedo, fazendo com que muitas atividades se tornem digitais. No entanto, contrariando as expectativas, apesar da leitura prática e dinâmica das redes sociais, o mercado literário tem se mantido estável no Brasil. De acordo com a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, divulgada em 2025, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Nielsen BookData, 56% dos consumidores de livros no país compraram apenas físicos nos 12 meses anteriores, enquanto apenas 14% adquiriram exclusivamente em formatos digitais. Esse movimento levanta a questão de o porquê dessa faixa etária, tão ligada à tecnologia, retornar ao papel.
Para Fábio Carvalho, CRO da Printi, gráfica que faz parte do Grupo Cimpress e é referência global em média e baixa tiragem, a redescoberta da literatura física proporciona ao leitor uma experiência tátil única, diferente do consumo rápido de conteúdo no universo digital. “O cheiro das páginas e a textura da capa aproximam o leitor da obra, possibilitando uma conexão mais profunda e prazerosa. Além disso, com diversos estudos de como o uso contínuo da tecnologia pode ser danoso para a nossa saúde, muitas pessoas estão fazendo o movimento contrário e buscando se afastar da tela por algumas horas”, explica.
Quando se lê em um material impresso, a concentração e o foco aumentam, de acordo com os neurocientistas. Isso porque estamos sem as distrações constantes das notificações ou o brilho da tela, que pode prejudicar a visão. “O livro físico pode ajudar a combater o cansaço visual causado pela luminosidade excessiva”, acrescenta o executivo. No entanto, muitos dispositivos de leitura já possuem uma tela adequada para a leitura, que imita a iluminação de uma página impressa, como o Kindle, da Amazon.
A praticidade do digital, contudo, não pode ser menosprezada. Embora a preferência da geração Z esteja pelo livro impresso, não há como ignorar as vantagens que o e-book pode proporcionar. “Ser capaz de carregar uma grande biblioteca sem peso algum e em um único aparelho é um ponto forte. A acessibilidade também se torna um atrativo, uma vez que existe uma facilidade em comprar edições mais baratas, por não terem o custo do material, e baixá-los instantaneamente. As plataformas digitais também democratizam o acesso a autores independentes”, adiciona Fábio.
Para Rafaela Varella e Queren Hapuque, co-fundadoras da HAPU, agência que conecta marcas com a Geração Z e especialistas em comportamento e consumo do zeitgeist cultural, o retorno aos livros físicos revela um paradoxo característico desta geração. “Somos a primeira geração nativa digital e, ao mesmo tempo, a que lidera o movimento de detox digital. Nascemos imersos na hiperconectividade e, justamente por isso, buscamos equilíbrio através de experiências offline”, explica Rafaela. Esse comportamento justifica a nostalgia funcionar cada vez mais como recurso psicológico ativo para a Geração Z lidar com o estresse da vida moderna. “O consumo de livros físicos também se conecta diretamente com o sentimento nostálgico que atravessa grande parte da nossa geração. Em tempos de incerteza, colecionar momentos no mundo real e longe das telas oferece sensação de conforto e autorregulação emocional, porque nos lembra de tempos mais simples”, complementa Queren. As Gen Z Speakers observam que o livro impresso não representa rejeição à tecnologia, mas a busca por um estilo de vida que não seja dominado pelo digital.
Entretanto, a geração Z tem a flexibilidade de transitar entre os dois universos, escolhendo o formato que melhor se adapta à sua necessidade ou momento. “Há quem valorize a conveniência e o vasto acervo dos e-books, mas também ainda existe quem prefira colecionar uma edição com capa mais elaborada e tirar uma folga das telas. Dessa forma, a resposta para o dilema pode ser uma mescla entre os formatos, possibilitando usar a tecnologia para descobrir e debater livros, e o formato impresso para aprofundar e vivenciar a leitura. Assim, a coexistência de físicos e digitais demonstra que o mais importante para essa geração é a experiência da leitura em si”, finaliza o CRO da Printi.















